segunda-feira, 4 de junho de 2012

A Missa em latim, de novo?


Mons. Hélio Maranhão – Ten. Cel PM Cpl Ch do SAR/PMMA



                             O Papa Bento XVl, pelo Motu próprio – Summorum Pontificum, (Moto próprio – Dos Romanos Pontífices), de O7.07.2007,  liberalizou a Missa de São Pio V que é  a Missa em Latim, a Missa Tradicional como se diz simplesmente, segundo a versão do Missale Romanum (Missal Romano), de 1952, aprovado pelo Papa João XXIII.

                             Juntamente com seu “Motu próprio”, o Papa Bento XVl enviou uma Carta pessoal a todos os Bispos do mundo, explicando as razões de sua decisão e deu ainda a “razão positiva” que o levou a esta medida pastoral que foi exatamente  “buscar uma reconciliação interna, no seio da Igreja”.

                     Desde 1969. Tendo entrado em vigor, o Novus Ordo Missae (o Novo Ritual da Missa), em 20 de novembro daquele ano, causou muita estranheza nos arraiais católicos do mundo inteiro. E o Papa Bento XVI, em sua Carta pessoal, explicou que, a partir de então, muitas comunidades “consideravam-se como que autorizadas e até obrigadas a criatividades, o que levou-as frequentemente a desvios e deformações na Sagrada Liturgia, no limite do superável. Falo, por experiência própria, porque também vivi  aquele período, cheio de expectativas e confusões. E vi como ficaram feridas,  pelas deformações arbitrárias da Liturgia, pessoas realmente radicadas na Tradição da fé católica. Seguiram-se desde então, na Igreja, muitas cisões dolorosas, das quais a mais conhecida foi a do Arcebispo Lefèbre que Bento XVI cita em sua Carta e cuja reconciliação,  o Papa Bento, ainda hoje, procura  buscá-la e refazê-la.

                      É bom lembrar que o Novus Ordo Missae ou a Missa Nova ou a Missa em português para nós, como se afirma simplificadamente se insere num quadro muito mais amplo que o das acaloradas discussões que surgiram logo após o Concílio Vaticano II. É ainda o Papa Bento quem descreve a situação, pois, em entrevista ao Padre Johannes Nebel, FSB, em 11.11.2006, ele explicitamente autorizou que a mesma entrevista se publicasse, à guisa de prefácio do livro – II Mondo Cattòlico: Verità e Forma (Milano, 2007), do Cardeal Leo Scheffezyk. Assim o Papa diz, naquela entrevista: “A situação, depois do Vaticano II, era extremamente confusa e irrequieta. E a própria posição doutrinária da Igreja não era mais sempre clara. Defendiam-se teses que se presumiam possíveis, embora, na realidade, não estivessem de acordo com a Doutrina Católica. E foi aí que eu me pude dar conta, continua o Papa, de como o Cardeal Leo Scheffezyk era sempre o primeiro a tomar posição clara. Eu mesmo, disse o Papa, naquele momento, me senti receoso em relação a quanto deveria ter ousado, para ir diretamente “ao ponto”.

                    Ora se um teólogo, como o Cardeal Ratzinger, se sentia confuso e embaraçado, diante da “situação extremamente confusa e irrequieta”, naquele pós-Vaticano II, que pensar então de outros eclesiásticos, de menor envergadura intelectual e de leigos, na grande maioria, despreparados para entender e enfrentar esta proliferação de opiniões conflitantes, nos arraiais católicos do mundo inteiro?

                   Não foi fácil conviver com a situação dos “avançados”, “modernos” e “atualizados”, defensores da nova situação da Igreja, com a Liturgia do Vaticano II.  Em toda essa confusão, de algum modo, persistente ainda hoje, o Papa Bento XVI vem procurando equilibrar a situação e superar os exageros, entre “avançados” e “antiquados”, pois a Igreja, sempre, como a virtude, está no meio, nem da direita nem da esquerda, pois a Verdade que é Jesus Cristo é sempre a mesma, ontem, hoje e para sempre (Hb 13,8)                     
                    
Esta, a razão do “Motu próprio” de Bento XVI. Com ele se faculta e não se impõe. Liberaliza e não se determina a todos os Padres a Celebração da Missa em Latim, segundo o Rito anterior ao Vaticano II (l962-l965), o Rito Tridentino, porque estabelecido pelo Papa São Pio V, baseado também numa Tradição mais que milenar, em função das Diretrizes do Concílio de Trento, o Concílio da Contra-Reforma Protestante, que teve sua altíssima visão para a sua época e seu tempo. Assim, ambas as visões são corretas, desde que respeitemos os tempos, sempre lembrados de que a Igreja – Corpo Místico de Cristo – está e estará sempre resguardada porque tem a garantia das Palavras de Jesus: “Tu és Pedro e tu és Pedra e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja. E as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela... Pedro, Eu orei por ti e tu, uma vez confirmado na fé, confirmarás teus irmãos” (Mt 18, 16-19; Lc 22,31-32)

                        E já se vão 2012 anos de caminhada histórica da Igreja Católica, neste mundo, a serviço da Evangelização, apesar das limitações dos homens e das mulheres que já passaram e de nós, hoje, que, um dia, também, passaremos, mas Ela, a Igreja, permanecerá até ao fim da história, quando Deus será Tudo em todos, pelo poder de Jesus, o único e suficiente Mediador entre Deus e os homens. Concluamos, pois: Sua Santidade,  o Papa Bento XVl, não restabeleceu a Missa em latim, mas, apenas a liberalizou para quem  quiser celebrá-la, pois a Missa em Latim nunca foi abolida. No próximo artigo, explicaremos como o Novus Ordo Missae foi verdadeiramente uma inovação do Vaticano II, de acordo com as orientações do Papa Paulo VI que, de algum modo, realizou a Nova Primavera da Igreja e fez acontecer o Novo Pentecostes, profetizados pelas palavras do Papa João XXIII que assim falou, referindo-se aos novos horizontes do Concílio Vaticano II: “E haverá na Igreja uma Nova Primavera e um Novo Pentecostes”.




Um comentário:

  1. caríssimo monsenhor hélio maranhão. estou escrevendo livro luís stauta - o homem e o mar de tutóia e, como o senhor morou lá, no período barbo dos tempos de chumbo, quero, no capítulo que se refere ao senhor, ilustrar com fotos suas. de preferência do período de tutóia, se o senhor tiver e puder disponibilizar. ficaria imensamente agradecido.

    veja meu blog: www.krudu.blogspot.com

    meu e-mail: kenardkruel@yahoo.com.br

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