A Procissão dos Ossos
Mons.
Hélio Maranhão – Ten-Cel QOCPM, Cpl Ch do SAR/PMMA
Entre as
Procissões mais antiga de São Luís e, já, há muito, desaparecidas, uma se
destaca, merecendo especial atenção. É a Procissão dos Ossos. O Padre Astolfo
Serra a ela se reporta, transcrevendo uma das mais belas páginas dos Folhetins
de João Lisboa: “Na véspera do Dia de Finados, logo à noite, sai a Procissão
dos Ossos. Dir-se-á que as almas do Purgatório, não satisfeitas com os
sufrágios dos fiéis que acodem ao lugar onde repousam seus corpos, saem, sob a
forma visível e palpável dos Ossos, a solicitar pelas ruas, as orações dos
tíbios remissos ou enfermos que se deixam fica em suas casas. Eu vi descer o
fúnebre préstito, por uma das principais ruas de São Luís: “Eram extremas filas
de Irmandades e Padres, de círios, lanternas e archotes acesos. À frente ia
armada, como em troféu, a imagem do Senhor Crucificado e muitos painéis de
Santos. No fim da fila, o sarcófago, cheio de ossos, cobertos com um pano
preto, com uma cruz de galões mortuários, carregado pelos irmãos da
Misericórdia. Logo após a Banda Militar, chorosa e sentida, a grande multidão
vestida de preto e branco e a tropa com as armas em funeral. Durante a passagem
do préstito, dobravam dolentes os sinos de todas as igrejas.
Ao
recolher-se a Procissão dos Ossos, quando desembocava na Rua São Pantaleão, o
fúnebre cortejo se derramava, como um estreito e apertado canal e lá, do alto
da torre da igreja, as luzes dos círios e archotes figuravam uma só chama
imensa ou parecia a superfície de um rio em fogo que corria, cintilando e
flutuando, ao dardejar do sol meridiano.
O poeta
provinciano, de então, Augusto Frederico Golias, cantou assim: “A lembrança dos
mortos é sagrada... E, em procissão, os restos verdadeiros da humanidade se
transportam... Mas, choroso e carpido, geme o bronze”
Conta-se que
um incréu, desses pedreiros-livres de outrora que sempre tinham um riso de
escárnio para com a Religião, assistia, da janela de seu casarão de azulejos, a
uma dessas procissões, quando uma velhinha, coberta de preto, passou bem perto
da janela por onde espiava o ateu. Ela parou um instante e pegando na mão
daquele homem, antes que ele se refizesse da surpresa do susto, disse-lhe em
segredo: “segure esta vela, por favor!” Quando abriu os olhos, o ateu que
julgava pegar um círio aceso, tinha nas mãos, com espanto, uma canela de
defunto. Rezam as crônicas que, no outro dia, os sinos de São Pantaleão
dobraram dolentemente pelo incrédulo que morrera fulminado.
É assim. Não
se deve brincar com as coisas sagradas da Religião, porque a santidade é de
Deus e Deus é toda sabedoria, grandeza e poder. Deus merece todo o respeito e a
atenção de toda a sua Criação.